segunda-feira, 22 de abril de 2024

Dos Mestres Escoceses aos Mestres Secretos - PARTE 2 - Elus Coen

 Olá caros amigos,


 Seguimos hoje nossa história contando a segunda parte das influências do RER: L'Ordre des Chevalier Maçon Elús Coën de L'Universe - A Ordem dos Cavaleiros Maçons Sacerdotes Eleitos do Universo - Ou como conhecemos vulgarmente: Elus Coen.

Por volta de 1750 aparece na França um homem chamado Jacques de Livron Joachin de la Tour de la Casa Martinez de Pasqually, ou como o conhecemos hoje Martinez de Pasqualy (para facilitar o chamaremos nesse Post de MP). Pouco sabemos sobre a biografia dele antes disso, provavelmente seria originário de Grenoble.

 De qualquer maneira, sabemos que em dado momento ele serviu no Regimento de Foix, onde se iniciou numa Loja Militar, provavelmente a mesma loja de seu pai. Provavelmente viajou bastante junto deste regimento que lutou durante esse período principalmente na Guerra de Sucessão Austríaca e em seguida na Guerra dos Sete Anos. Provavelmente ele saiu do regimento por volta de 1754, antes que o regimento fosse designado para servir nas colônias francesas.

Nesta época ele funda o Capítulo dos Juízes Escoceses na França, e começa a trabalhar por um período de vinte anos incansavelmente num sistema novo de maçonaria, até então nunca visto, que em breve se tornaria o que conhecemos como a Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Coen do Universo.

Ele ganha acesso às Lojas e tem autoridade através de uma carta patente hereditária que teria sido recebida por seu pai dos próprios Stuart. (Para quem não lembra a importância dos Stuart nessa história sugiro ler este artigo e em seguida este artigo para relembrar). Esta carta dava à MP o direito de abrir Lojas e fazer Maçons.

Nas visitas às Lojas ele apresenta o seu sistema Maçônico, que não era apenas uma fraternidade de busca filosóficas e morais, mas também apresenta o Maçom como ao mesmo tempo um Cavaleiro e um Sacerdote, que deveria se preparar através de purificações, consagrações e orações para executar rituais especiais de Teurgia (Theos Ergon - Trabalho Divino) - uma modalidade de Magia Cerimonial, que ao invés de buscar mudanças materiais na realidade, busca tornar o Operador um veículo para execução da Grande Obra de Deus através de invocações e evocações em rituais complexos, contato com seres celestiais e busca de experiências gnósticas.

Nestas Lojas temos relatos em que ele realizava alguns de seus rituais, e que teria conseguido evocar entidades e realizando certos feitos que muito impressionaram os Maçons da época.  Além disso, em suas cerimônias maçônicas e instruções ele trazia um conteúdo teológico, filosófico e moral muito profundo, quase como um Midrash Cristão ( Midrash - Exegese, ou complemento, que vai além da leitura literal da escritura, mas que busca explicar as lacunas existentes no texto).

Estes rituais traziam elementos que lembram noções de Alquimia Espiritual, com toques de Gnosticismo Sethiano, Cabala, em especial do Zohar, e elementos que remetem a cerimônias mágicas e teurgicas de grimórios da idade média- Como por exemplo o Picatrix e o Ars Notoria.

Estava Estruturado em um sistema de Maçonaria Simbólica nos Graus de Aprendiz, Companheiro (ou Mestre Particular do Pórtico) e Mestre Maçom Simbólico e Particular. Em seguida vinha um sistema de altos graus, com mais 7 graus - Mestre Elu, Aprendiz Coen, Companheiro Coen e Mestre Coen(ou Mestre Elus Coen), Grande Mestre Coen (ou Grande Arquiteto), Grande Elus de Zorobabel (ou Cavaleiro do Oriente), Comandante do Oriente (ou Aprendiz Reaux Croix).

 Esta estrutura era coroada por um último grau, o Nec Plus Ultra do sistema que era o Reaux Croix - Não confundir com Rose Croix, o grau Rosa Cruz que temos hoje e que surge por volta da mesma época, mas não integra o sistema de Pasqualy neste formato - Neste último Grau - Reaux Croix - o Maçom era revestido de todos os seus direitos e deveres dentro da estrutura assumindo a responsabilidade de executar alguns rituais mais complexos e de realizar todas as operações necessárias para atingir o objetivo da Ordem: A Reintegração do Maçom com o Divino, bem como a Reintegração de todos os Seres.

 Como este texto busca mais uma explanação histórica, não entraremos no momento na cosmogonia, filosofia e doutrina de MP e seu Sistema, mas focaremos em como era o sistema, como funcionava e como sua história influenciou o surgimento do RER. Estes outros assuntos serão tratados futuramente em outras Postagens.

 Seguindo adiante, esse sistema tem um crescimento bastante notável no meio iniciático e esotérico Francês da época, até que em 1767 durante uma viagem à Paris, Jean Baptiste Willermoz (a partir de agora referido como JBW), através de seu amigo Bacon de La Chevalerie, entra em contato com a Ordem dos Elus Coen e pede Admissão.

 Tendo seu gênio maçônico e empenho aos estudos reconhecido, JBW rapidamente avança pelo sistema, embora suas capacidades teugircas e cerimoniais não sejam tão eficientes.Apenas 20 anos depois que JBW irá descrever sucesso em conseguir contato direto a partir de seus rituais, já em 1785. Mas o sistema e a doutrina de MP impressionaram tanto Willermoz que ele continuou com suas práticas - de acordo com o descrito em cartas com Charles de Hesse - até o final de sua vida.

Independente de acreditar ou não em tais fenômenos, algo aconteceu naquela época que impressionou não uma pessoa qualquer, crédula, simples, mas homens estudiosos, buscadores, que se dedicavam ao estudo e busca da verdade, que produziram vasta literatura na época e foram os criadores do RER como o conhecemos hoje.

A Ordem dos Elus Coen cresce bastante e se torna relativamente popular até que, em 1772, MP decide empreender uma viagem até a Ilha de São Domingos - hoje conhecida como Haiti e Republica Dominicana - para receber uma herança e lá acaba falecendo.

 A Ordem dos Elus Coen não dura muito tempo oficialmente após o falecimento de MP, algumas lojas vão se filiar a Grande Loja da França em 1776 e abandonar o rito dos Elus Coen, outras duram até 1781 quando Sebastian de Las Casas, Grande Soberano da Ordem na época, ordena o fim da ordem e fechamento dos templos.

Ainda sim, os Elus Coen, apesar de oficialmente extintos, continuarão a estudar e praticar o sistema, fazendo iniciações. O sistema e filosofia continuarão vivos em duas correntes - Uma através de Saint Martin (o qual falaremos sobre em posts futuros), e em uma corrente maçônica através de Willermoz.