terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Tipos de Envolvimento com Organizações Iniciáticas

O membro, ao iniciar sua jornada na Ordem, escolhe – voluntariamente ou não – onde alicerçar o seu envolvimento, e esta escolha será determinante para traçar o seu perfil de atuação, os projetos que realizará e o seu engajamento com a Ordem.
Entendemos que existem três Espécies de Envolvimento: (i) o Envolvimento Institucional, (ii) o Envolvimento Fraternal e (iii) o Envolvimento Ritualístico (litúrgico)
O Envolvimento Institucional é aquele cujo atrativo, isto é, cujo elemento primordial que apreende a pessoa à coisa é a política institucional, os cargos, a organização administrativa, a preocupação com a manutenção da estrutura, com a eficiência, com a gestão, com a realização de projetos, enfim, com a manutenção do corpo que rege a Ordem.
O Envolvimento Fraternal é aquele cujo elemento instigante é os amigos (os irmãos), o fato de se estar com as pessoas que gosta e se sentir bem com isso, como também por meio da construção de uma rede de contatos, ou porque estuda ou mantém relações profissionais com essas pessoas.
Envolvimento Ritualístico, por usa vez, é aquele cujo cerne é a liturgia da Ordem. É o gosto pela história da Instituição, pelo conteúdo moral, pela simbologia, enfim, é o ensinamento contido no Ritual que caracteriza o envolvimento litúrgico do Maçom com a Ordem. A perspectiva da formação interior e espiritual, isto é, de vislumbrar no Ritual mecanismos de auto aperfeiçoamento e transformação pessoal por meio dos preceitos, dogmas, doutrinas e virtudes da instituição que conferem a liga desta espécie de envolvimento.
Sendo assim, é nessa última que particularmente alicerço a minha permanência, porque é, de fato, a que mais consegue concretar o nosso espírito com a Ordem. É dizer, o envolvimento litúrgico é aquele que confere maior solidez, maior firmeza, pois as chances de frustração e decepção são diminutas.
Aquele que se firma no modelo de Envolvimento Institucional corre o risco de ter a sua permanência fragilizada caso se vislumbre um momento em que a Instituição esteja mal gerida, com desvio de dinheiro, com politicagem (ao menos da qual você não concorde), ou até mesmo caso perca uma disputas eleitoral. O descontentamento com a estrutura que, por ventura, venha a tomar conta da Instituição, fatalmente irá esmorecer e desanimar o envolvimento do membro que nesta espécie se firmou e acabará se afastando da Ordem.
No Envolvimento Fraternal, no qual o adepto valida toda a sua permanência na relação com as pessoas, o risco mortal de afastamento se mostra no instante em que alguém lhe trai; e inevitavelmente em algum momento da jornada, o membro se sente de alguma forma traído por alguém que considera, seja no ambiente da Ordem ou externo, como numa sociedade empresária ou numa relação comercial. Essa frustação e chateação pode desmoronar o elo da corrente que o prendia à Ordem, fulminando a sua permanência.
Já a relação baseada no Ritual, no simbolismo, na filosofia, na doutrina, é uma relação que só depende do Iniciado. Não há interferência externa, de modo que quanto mais se está apaixonado e amando a liturgia da Ordem, isto é, quanto mais íntima for a sua relação com o Ritual, o envolvimento será cada vez mais pleno e inquebrantável, pois nenhum fato externo pode abalá-lo.
Ora, a Instituição pode estar um caos, inundado em roubalheira, ao passo que as pessoas que iniciam podem ser traidoras, mesquinhas, vaidosas e desonradas, mas se o membro alimentar sua permanência na liturgia, ela que será o elo importante, de modo que os prejuízos externos não irão abalar essa corrente e a sua estabilidade estará garantida.
É por isso que é mais seguro e viável depositar o envolvimento do Adepto no Ritual, na liturgia, no simbolismo, nas mensagens e na moral da Ordem, pois são inabaláveis, independentemente das pessoas – falíveis que são – que venham a iniciar ou a gerir a Instituição.
Ademais, interessante frisar que, para se manter esse envolvimento litúrgico é imprescindível manter-se em constante contato a Organização. Amar a simbologia e não vivenciá-la é incongruente pela sua própria natureza, razão pela qual além de ser mais seguro e inquebrável, o Envolvimento Ritualístico lhe condiciona a manter-se sempre presente e participante, pois somente dessa maneira é possível sentir a simbologia da Ordem.
Assim, por mais que o resto todo esteja ruim, aquele que adote este modelo de envolvimento terá que frequentar para poder vivenciar aquilo que ama. Por esta razão inexiste espaço para escapatória; não há afastamento possível.
Portanto, o modelo de envolvimento que apresenta um duplo aspecto capaz de manter o iniciado indissociavelmente ligado às Ordens é o Envolvimento Ritualístico.
Todavia, o raciocínio até aqui desenvolvido não resulta na conclusão de que os envolvimentos institucionais e fraternais sejam desimportantes. Não se quer dizer aqui que se importar e desenvolver o gosto e aptidão nas relações institucionais e fraternais (até mesmo em âmbito comercial) sejam descartáveis.
Ao contrário, eles têm sim sua relevância. Entretanto, tratam-se de Envolvimentos transversais, não primários. É dizer, contanto que o envolvimento do maçom seja primariamente alicerçado no Ritual, nada impede – inclusive é desejável – que, transversalmente, o irmão desenvolva também seu vínculo de maneira profícua na organização institucional ou na relação fraternal.
Um não impede o desenvolvimento dos demais, mas somente um pode ocupar o espaço da pedra angular da construção do seu envolvimento com a Ordem, e ele precisa ser o Litúrgico. Desenvolver os demais é necessário, mas jamais pode se sobrepor à dogmática, a missão, às virtudes, ensinamentos e juramentos firmados e apreendidos com a Ordem.
Ademais, vale destacar, que o envolvimento ritualístico poderá, inclusive, conferir ao iniciado melhores capacidades para o desempenho das relações institucionais e fraternais, afinal o membro que firma sua pedra angular no Ritual será forjado nas virtudes e ensinamentos que aperfeiçoam o homem, de modo que terá maior aptidão para desenvolver os demais Envolvimentos.

Portanto, aquele que prioritariamente pauta-se conforme a dogmática da Ordem, além de não sofrer abalos externos no seu envolvimento, conseguirá potencializar sua capacidade para as relações de índole institucional ou fraternal, pois saberá melhor lidar com as dificuldades e com o convívio interpessoal, afinal terá se aperfeiçoado enquanto ser humano em cumprido da precípua missão da Ordem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário