segunda-feira, 17 de julho de 2023

Os Escoceses e os Jacobitas

Continuando nossa série de Postagens sobre o Rito Escocês Retificado(RER) e suas Origens: vamos hoje falar sobre um tema importantíssimo para entendermos não apenas o RER, mas também a Maçonaria Europeia e Brasileira.

 Em primeiro lugar é preciso diferenciar o que é Escocês, que veio da Escócia, do Jacobitismo e do Escocismo. A primeira vista parece tudo a mesma coisa, mas não é!

 E é importantíssimo dizer: Não podemos confundir Jacobitismo com Jacobinismo!

A Maçonaria dita Operativa, ou seja, aqueles construtores de muros, castelos e catedrais - bem diferente do maçom especulativo que vos fala que constrói dentes (hehehe) - Já se desenvolvia nas Ilhas Britânicas desde pelo menos David I da Escócia, que trouxe construtores da Europa continental, em especial da França e Espanha, para trabalharem no que ficou conhecido como Revolução Davidiana. 

As antigas construções de madeira foram sendo substituídas por construções de Pedra. Muros, Castelos, Igrejas e Abadias foram construídas. Muitos desses trabalhadores, Judeus, bem aceitos por David I em seu reino vão chama-lo de descendente de Davi, como forma de exaltar suas virtudes enquanto Rei.

David I era um fã de Ordens de Cavalaria, em especial a Ordem dos Templários. Alguns autores relacionam o ressurgimento Ordem do Cardo com Davi I através da Ordem de St. Thomas de Acon que teria sido fundada por ele como uma cópia dos Cavaleiros Templários.

Mas e o que isso tem a ver com a Maçonaria Operativa? David I da Escócia utilizava destas Ordens para financiar sua revolução Davidiana => Alguns apontam que é aí que surgem as lendas de origens Templária, ou a relação entre Maçonaria e Ordens de Cavalaria (voltaremos a isso mais tarde)

Dessa revolução arquitetônica, cavaleiresca e cultural do Século XII é que vai nascer o embrião da Maçonaria Escocesa.

Vamos agora dar um salto no tempo até o Reinado de Elizabeth I, da Casa de Tudor, simbolizada por duas Rosas - Uma Branca e uma Vermelha - Unidas, representando o fim da Guerra das Duas Rosas que colocou duas casas dinásticas Inglesas em choque - Lancaster e York. Ao morrer, sem descendentes, sua sucessão vai para o Rei da Escócia, Jaime, seu sobrinho por parte de Maria da Escócia. Apesar de ser oficialmente da casa Stuart da Escócia, era descendente dos Tudor por parte de mãe.

Junto do Rei Escocês, vai toda uma nobreza e a corte escocesa, além das práticas escocesas, para o território da Inglaterra.

Vamos agora para outro Salto Histórico - Rei Carlos I, no século XVII é condenado e executado por uma revolução puritana na Inglaterra, dando início ao que chamamos de República de Cromwell, forçando seu fico Carlos II a se exilar na França. - Estes Reis e Nobres que o acompanham em seu exílio são conhecidos como Escoceses, apesar de terem a grande maioria nascido já em terras inglesas. Entendam, caros leitores, eles chamavam assim pois era uma dinastia que vinha da Escócia.

Para ter o apoio dos Franceses, Carlos II que era Anglicano promete se converter ao catolicismo em data futura - data esta que nunca chega. Carlos II  se exila na França e na Holanda por algum tempo, até ser convidado a retornar para Inglaterra como Rei, após a morte de Cromwell e um governo desastroso de seu filho

. Alguns autores sugerem que já nesta época, durante o exílio, a Maçonaria Operativa é inundada por membros Especulativos, que por seu caráter secreto, usam da Ordem como rede de espionagem para a causa dos Stuart e outros a utilizam para assuntos que não seriam tão bem vindos nos meios convencionais e públicos - Magia, Alquimia, Cabala, Rosacrucianismo, Cristianismo Esotérico e todo tipo de Esoterismo.

Seu reinado é conflituoso, pois apesar de ser a favor da liberdade religiosa, ao mesmo tempo assina atos que beneficiam o poder dos Anglicanos e fornece Indulgência aos Católicos, suspendendo todas as leis que penalizavam católicos e dissidentes religiosas.

Durante esse período ocorre o Grande Incêndio de Londres, em 1666, causando grande destruição em uma cidade que era quase toda ainda com construções em madeira. Em seu reinado a cidade começará a ser reconstruída em Pedra, trazendo ainda mais Maçons Operativos e atraindo ainda mais atenção de homens que não eram ligados ao trabalho com pedra, mas que gostavam do caráter secreto da Ordem.

Carlos II morre sem deixar herdeiros, subindo ao trono seu irmão Jaime, que se torna Jaime II. Como católico buscou ainda mais a Liberdade Religiosa, permitindo que Católicos e até mesmo Judeus ocupassem cargos públicos e ampliando o direito ao próprio culto religioso. O que diminui o poder dos Anglicanos.

Jaime II foi um rei bastante adorado por Judeus, sendo chamado de 2º Salomão, pois permitiu que viessem da Europa, os recebendo com liberdade de culto e respeitando suas crenças, e os empregando em construções de pedra através da maçonaria, nessa época ainda operativa, mas já em transição a para o que chamaríamos hoje de maçonaria especulativa. Ele não apenas manteve as reformas em pedra de Londres, como as expandiu pelas ilhas britânicas.

Entretanto o conflito e as tensões religiosas com Anglicanos levaram o parlamento a convidar Guilherme de Orange, da Holanda, seu cunhado para Reinar na Inglaterra.

 A invasão de Guilherme, que era marido da Irmã de Jaime II, e protestante, inicia a dinastia de Hanover, que reina até hoje na Inglaterra e força os Stuart ao Exílio mais uma vez.

 Junto dos Stuart, uma parte de sua corte, vai com o Rei para a Europa continental - principalmente Suécia, França e no que hoje conhecemos como Alemanha.

 E isso gerará uma divisão entre os Hanoverianos, que apoiam a Dinastia de Hanover e os Jacobitas, que apoiam os Stuart => Sendo Jacobita um nome relacionado ao termo Jacobo, a forma latina do nome Thiago em português ou Jaime em Inglês.

 Grande parte dos Hanoverianos era composta por Anglicanos e outros Protestantes, enquanto a maior parte dos Jacobitas era composta por Católicos e até mesmo Judeus.

 Estes Jacobitas em territótio continental utilizaram a maçonaria como rede de espionagem e apoio a causa do Stuart, criando graus maçônicos que faziam referência ao exílio, a uma terra prometida, vingança e a Reis Prisioneiros ou Exilados, retornando ao seu lugar de direito.

 Portanto, estes Ingleses Jacobitas, que faziam parte de uma corte de origem Escocesa, ficarão conhecidos pela Europa como Escoceses. Ser Escocês neste período não significava ter nascido na Escócia necessariamente, mas principalmente uma ligação com a Nobreza e a Cavalaria ligadas à Dinastia Stuart.

 E por hoje é só pessoal, próximo Post continuaremos conversando e iremos entender como esses "Escoceses" e Jacobitas irão dar origem ao que conhecemos como Escocismo.