segunda-feira, 22 de abril de 2024

Dos Mestres Escoceses aos Mestres Secretos - PARTE 2 - Elus Coen

 Olá caros amigos,


 Seguimos hoje nossa história contando a segunda parte das influências do RER: L'Ordre des Chevalier Maçon Elús Coën de L'Universe - A Ordem dos Cavaleiros Maçons Sacerdotes Eleitos do Universo - Ou como conhecemos vulgarmente: Elus Coen.

Por volta de 1750 aparece na França um homem chamado Jacques de Livron Joachin de la Tour de la Casa Martinez de Pasqually, ou como o conhecemos hoje Martinez de Pasqualy (para facilitar o chamaremos nesse Post de MP). Pouco sabemos sobre a biografia dele antes disso, provavelmente seria originário de Grenoble.

 De qualquer maneira, sabemos que em dado momento ele serviu no Regimento de Foix, onde se iniciou numa Loja Militar, provavelmente a mesma loja de seu pai. Provavelmente viajou bastante junto deste regimento que lutou durante esse período principalmente na Guerra de Sucessão Austríaca e em seguida na Guerra dos Sete Anos. Provavelmente ele saiu do regimento por volta de 1754, antes que o regimento fosse designado para servir nas colônias francesas.

Nesta época ele funda o Capítulo dos Juízes Escoceses na França, e começa a trabalhar por um período de vinte anos incansavelmente num sistema novo de maçonaria, até então nunca visto, que em breve se tornaria o que conhecemos como a Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Coen do Universo.

Ele ganha acesso às Lojas e tem autoridade através de uma carta patente hereditária que teria sido recebida por seu pai dos próprios Stuart. (Para quem não lembra a importância dos Stuart nessa história sugiro ler este artigo e em seguida este artigo para relembrar). Esta carta dava à MP o direito de abrir Lojas e fazer Maçons.

Nas visitas às Lojas ele apresenta o seu sistema Maçônico, que não era apenas uma fraternidade de busca filosóficas e morais, mas também apresenta o Maçom como ao mesmo tempo um Cavaleiro e um Sacerdote, que deveria se preparar através de purificações, consagrações e orações para executar rituais especiais de Teurgia (Theos Ergon - Trabalho Divino) - uma modalidade de Magia Cerimonial, que ao invés de buscar mudanças materiais na realidade, busca tornar o Operador um veículo para execução da Grande Obra de Deus através de invocações e evocações em rituais complexos, contato com seres celestiais e busca de experiências gnósticas.

Nestas Lojas temos relatos em que ele realizava alguns de seus rituais, e que teria conseguido evocar entidades e realizando certos feitos que muito impressionaram os Maçons da época.  Além disso, em suas cerimônias maçônicas e instruções ele trazia um conteúdo teológico, filosófico e moral muito profundo, quase como um Midrash Cristão ( Midrash - Exegese, ou complemento, que vai além da leitura literal da escritura, mas que busca explicar as lacunas existentes no texto).

Estes rituais traziam elementos que lembram noções de Alquimia Espiritual, com toques de Gnosticismo Sethiano, Cabala, em especial do Zohar, e elementos que remetem a cerimônias mágicas e teurgicas de grimórios da idade média- Como por exemplo o Picatrix e o Ars Notoria.

Estava Estruturado em um sistema de Maçonaria Simbólica nos Graus de Aprendiz, Companheiro (ou Mestre Particular do Pórtico) e Mestre Maçom Simbólico e Particular. Em seguida vinha um sistema de altos graus, com mais 7 graus - Mestre Elu, Aprendiz Coen, Companheiro Coen e Mestre Coen(ou Mestre Elus Coen), Grande Mestre Coen (ou Grande Arquiteto), Grande Elus de Zorobabel (ou Cavaleiro do Oriente), Comandante do Oriente (ou Aprendiz Reaux Croix).

 Esta estrutura era coroada por um último grau, o Nec Plus Ultra do sistema que era o Reaux Croix - Não confundir com Rose Croix, o grau Rosa Cruz que temos hoje e que surge por volta da mesma época, mas não integra o sistema de Pasqualy neste formato - Neste último Grau - Reaux Croix - o Maçom era revestido de todos os seus direitos e deveres dentro da estrutura assumindo a responsabilidade de executar alguns rituais mais complexos e de realizar todas as operações necessárias para atingir o objetivo da Ordem: A Reintegração do Maçom com o Divino, bem como a Reintegração de todos os Seres.

 Como este texto busca mais uma explanação histórica, não entraremos no momento na cosmogonia, filosofia e doutrina de MP e seu Sistema, mas focaremos em como era o sistema, como funcionava e como sua história influenciou o surgimento do RER. Estes outros assuntos serão tratados futuramente em outras Postagens.

 Seguindo adiante, esse sistema tem um crescimento bastante notável no meio iniciático e esotérico Francês da época, até que em 1767 durante uma viagem à Paris, Jean Baptiste Willermoz (a partir de agora referido como JBW), através de seu amigo Bacon de La Chevalerie, entra em contato com a Ordem dos Elus Coen e pede Admissão.

 Tendo seu gênio maçônico e empenho aos estudos reconhecido, JBW rapidamente avança pelo sistema, embora suas capacidades teugircas e cerimoniais não sejam tão eficientes.Apenas 20 anos depois que JBW irá descrever sucesso em conseguir contato direto a partir de seus rituais, já em 1785. Mas o sistema e a doutrina de MP impressionaram tanto Willermoz que ele continuou com suas práticas - de acordo com o descrito em cartas com Charles de Hesse - até o final de sua vida.

Independente de acreditar ou não em tais fenômenos, algo aconteceu naquela época que impressionou não uma pessoa qualquer, crédula, simples, mas homens estudiosos, buscadores, que se dedicavam ao estudo e busca da verdade, que produziram vasta literatura na época e foram os criadores do RER como o conhecemos hoje.

A Ordem dos Elus Coen cresce bastante e se torna relativamente popular até que, em 1772, MP decide empreender uma viagem até a Ilha de São Domingos - hoje conhecida como Haiti e Republica Dominicana - para receber uma herança e lá acaba falecendo.

 A Ordem dos Elus Coen não dura muito tempo oficialmente após o falecimento de MP, algumas lojas vão se filiar a Grande Loja da França em 1776 e abandonar o rito dos Elus Coen, outras duram até 1781 quando Sebastian de Las Casas, Grande Soberano da Ordem na época, ordena o fim da ordem e fechamento dos templos.

Ainda sim, os Elus Coen, apesar de oficialmente extintos, continuarão a estudar e praticar o sistema, fazendo iniciações. O sistema e filosofia continuarão vivos em duas correntes - Uma através de Saint Martin (o qual falaremos sobre em posts futuros), e em uma corrente maçônica através de Willermoz.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Dos Mestres Escoceses aos Mestres Secretos - PARTE 1 - A EOT

 Saudações!

 Continuamos nossa série de postagens sobre a história do RER a partir das quais espero contextualizar para vocês entenderem bem de onde surgiu este rito e as influências que ele teve. 

- Relembrando que este Blog pretende uma linguagem mais informal, menos acadêmica, mas que as referências vem pesquisas históricas a partir de fontes primárias e historiadores que se debruçam sobre o tema, e que não me furto a enviar as referências a quem pedir.

 Agora vamos bifurcar nosso caminho em duas partes distintas => O Surgimento dos Mestres Secretos - De um lado a Estrita Observância Templária ou EOT, que é esta parte 1. Em seguida postarei a parte 2 falando sobre a Ordem dos Cavaleiros Maçons Sacerdotes Eleitos do Universo, ou como são conhecidos Elus Coens.

 Terminamos na última postagem com o fim das pretensões Jacobitas em 1746, com a derrota na Batalha de Culloden, o que abriu espaço para uma reinterpretação deste movimento dentro da Maçonaria Escocista que se desenvolvia na França, Alemanha e Suécia.

 Retornemos um pouco ao passado para contar a história de uma figura importante para a nossa narrativa, o Barão Karl Von Hund, que teria sido iniciado na Maçonaria durante sua estadia em Paris entre 1741 e 1743 e, segundo relato do mesmo, ele teria sido iniciado por Cavaleiros Escoceses na Ordem dos Cavaleiros Templários e tendo sido recebido nesta Ordem por um "Cavaleiro da Pena Escarlate" que seria o próprio pretendente ao Trono Inglês - Charles Edward Stuart.

 Após isso, ele retorna a Alemanha e entre 1751 e 1754 ele funda o que ficou conhecido como a Maçonaria Retificada de Dresden, ou Retificação de Dresden, ou Estrita Observância Templária (EOT).

 A EOT era um sistema de maçonaria em camadas: O Iniciado passava pelos 3 graus de Maçonaria - Aprendiz, Companheiro e Mestre, com algumas modificações, mas de maneira geral da mesma forma que é em quase toda maçonaria. Após isso havia um quarto grau, o de Mestre Escocês, com alguns ensinamentos e simbolismos a mais.

 Depois desta parte maçônica o Irmão era admitido numa ordem interna, com mais dois Graus: Noviço/Escudeiro e Cavaleiro. Onde o admitido aprendia que tudo que ele viu enquanto maçom era apenas um véu, uma máscara, para ocultar um segredo - A Ordem dos Templários que sobrevivia dentro da maçonaria e ocultava seus símbolos e mistérios dentro dela. Aprendia ainda que tudo que ele aprendeu até então na Maçonaria eram referências sobre a Ordem dos Templários.

Em seguida, caso provasse ser um Irmão valoroso, era admitido em graus superiores da Ordem, onde se praticava Alquimia Operativa.

Este sistema cresceu e se tornou bastante popular nos territórios germânicos, nos países nórdicos, em parte da França e na Itália.

 Acima de tudo, era uma maçonaria composta pela Nobreza, Clero e pela Alta Burguesia, em que os aspectos de Cavalaria e Cavalheiresco eram muito mais ressaltados do que nas reuniões de Maçonaria Inglesa.

Entretanto, este sistema tinha alguns problema. Von Hund dizia receber orientações de Superiores Incógnitos, de Mestres Secretos os quais ele não podia revelar quem eram (muitos assumem que provavelmente seriam o Próprio Charles Stuart e outros líderes Jacobitas). Além disso, o sistema começou a sofrer perseguições por declarar ser de fato Herdeiro dos Templários e propagar a Ideia de reparação e devolução de Terras, Propriedades e Tesouros que foram retirados dos Templários durante o Século XIV. 

 Este tipo de reclamação chamou a atenção de autoridades civis e eclesiásticas que há muitos séculos tinham a posse dessas terras e propriedades.

A partir de 1764, alegadamente as instruções dos Superiores Incógnitos começam a chegar cada vez menos, e entre 1774 e 1775 Von Hund começa a ser afastado do comando da Ordem pelas dúvidas sobre as reais filiações da Ordem com os templários e da veracidade das alegações e do sistema que ele propôs.

Em 1775, após um julgamento no Convento de Brunswick, Von Hund não apresenta provas de suas ligações com estes superiores e nem quem seriam. Ele se recusa a fornecer qualquer informação e - alguns relatam que em prantos ele diz que não pode de forma alguma quebrar o seu juramento ou ser perjuro, revelando informações que ele prometeu guardar. Von Hund morre um ano depois, em 1776, em isolamento.

Ainda fica a dúvida e o debate para os historiadores, se Von Hund era um enganador, com patentes forjadas (as quais ele nunca apresentou), ou se realmente estava honrando seus juramentos.

De qualquer maneira, o sistema que ele inicia de Maçonaria Cavalheiresca vai ecoar, de uma maneira ou de outra, até hoje no imaginário Maçônico e o seu sistema era interessante e popular o suficiente para chamar a atenção de Príncipes, Nobres, Clero e a Alta Burguesia, além de grandes mentes do Século XVIII.

 Em 1776 ocorre uma reforma inicial na EOT, chamada Retificação de Weiller. Esta primeira reforma motiva um grupo de Irmãos Franceses, de Lyon, a convocar um Convento que ficaria conhecido como Convento das Gálias - em 1778....

 Porém, antes de continua, precisaremos voltar mais um pouco para ajudar a compreender um outro "braço" que vai influenciar esses acontecimentos históricos que irão culminar no Surgimento do RER, mas esta segunda parte ficará na próxima semana onde conversaremos sobre os Elus Coen.



segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Os Jacobitas e os Escocistas

Saudações!

 Voltamos ao nossos posts!

 Desde já agradeço a compreensão de nossos leitores pois este que vos fala teve um pequeno futuro Demolay que nos últimos meses tomou quase 100% do tempo, porém, conforme prometido, retorno contando a história do RER.

 E para contextualizar, continuando de onde paramos, vamos falar sobre o Exílio Jacobita.

 Damos esse nome, para relembrar os apoiadores do Rei Jaime II, da dinastina Stuart, destronado da Inglaterra por Guilherme de Orange que inicia a Dinastia de Hanover. - Jaime em Latim é Jacobo - Por isso Jacobitas, e por isso Exílio Jacobita. Por favor não confundir com os Jacobinos, que eram parte da revolução Francesa.

 Estes Jacobitas vão começar uma rede de espionagem e conspirações para tentar angariar força para um levante jacobita, e de fato tivemos vários na história, para tentar retirar a dinastia de Hanover e colocar de volta os Stuart ao poder.

Sendo os Stuart uma Dinastia de Origem Escocesa, os Jacobitas por vezes eram chamados também de Escocistas, ou Escoceses, principalmente quando se tratava de Maçonaria.

 Apesar do movimento contar com protestantes, era um movimento majoritariamente católico, formado por nobres, militares e a alta burguesia. E Lojas Maçônicas começaram a se formar com núcleos destas três camadas da sociedade, principalmente militares.

 Muitos defenderam por muito tempo que o Discurso de Chevalier Ramsay em 1737 foi o que iniciou os sistemas de altos graus/cavalaria na Maçonaria, e é o que inicia a ligação entre Ordens de Cavalaria Medieval/Templários e Maçonaria. Entretanto a pesquisa contemporânea, através de estudos de Cartas, em especial do Jonathan Swift observa que já em 1724 havia referências a influência de Ordens de Cavalaria (as mesmas citadas por Ramsay) logo no início da "maçonaria moderna", e com o autor falando sobre suas experiências com maçonaria no final do Século XIV - Não que aqui seja uma defesa de origem ou de herança de cavalaria medieval em maçonaria, mas as evidências deixam ao menos um questionamento: Será mesmo que Ramsay criou essa ligação entre Maçonaria e Ordens de Cavalaria em seu discurso, ou ele era apenas o transmissor de uma tradição, e um conhecimento que chegou a ele, que já era algo de certa notoriedade, e que ele só estava transmitindo adiante e que foi registrado?

 E qual a Importância disso para o nosso papo de hoje? TODA! Pois um dos cernes do Escocismo é justamente essa herança cavaleiresca.

 Pois o movimento Jacobita, dessa origem da Nobreza "Escocesa" vai justamente ser responsável pelo surgimento de graus de cunho Político, fazendo referência ao rei destronado, que deveria retornar ao seu lugar de direito, ao exílio de um povo e do retorno à essa terra.

 Entretanto, em 1746, as pretensões Jacobitas, de retornar os Stuart ao poder são enterradas após a batalha de Culloden. Da mesma forma começam a perder espaço os que tentavam dar um viés político a maçonaria e um segundo grupo começa a crescer. Um grupo romântico, esotérico, místico, alquímico, espiritualista, rosacruz que começam a dar um novo Formato a esses graus, reinterpretando-os de maneira mais moral e alegórica do que propaganda política. Muitas vezes recheado de simbolismos Rosacruzes, Astrológicos e Alquímicos. A partir daí vai haver um Boom de Graus e Sistemas - principalmente - na França, Alemanha e Suécia.

 Os Jacobitas Escoceses Maçons aos poucos cedem espaço para os Mestres Escoceses, sem ter precisado nenhum grupo ter nascido na Escócia.

Próxima postagem: Dos Mestres Escoceses aos Mestres Secretos e compreenderemos um pouco mais essa tradição do Escocismo

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Os Escoceses e os Jacobitas

Continuando nossa série de Postagens sobre o Rito Escocês Retificado(RER) e suas Origens: vamos hoje falar sobre um tema importantíssimo para entendermos não apenas o RER, mas também a Maçonaria Europeia e Brasileira.

 Em primeiro lugar é preciso diferenciar o que é Escocês, que veio da Escócia, do Jacobitismo e do Escocismo. A primeira vista parece tudo a mesma coisa, mas não é!

 E é importantíssimo dizer: Não podemos confundir Jacobitismo com Jacobinismo!

A Maçonaria dita Operativa, ou seja, aqueles construtores de muros, castelos e catedrais - bem diferente do maçom especulativo que vos fala que constrói dentes (hehehe) - Já se desenvolvia nas Ilhas Britânicas desde pelo menos David I da Escócia, que trouxe construtores da Europa continental, em especial da França e Espanha, para trabalharem no que ficou conhecido como Revolução Davidiana. 

As antigas construções de madeira foram sendo substituídas por construções de Pedra. Muros, Castelos, Igrejas e Abadias foram construídas. Muitos desses trabalhadores, Judeus, bem aceitos por David I em seu reino vão chama-lo de descendente de Davi, como forma de exaltar suas virtudes enquanto Rei.

David I era um fã de Ordens de Cavalaria, em especial a Ordem dos Templários. Alguns autores relacionam o ressurgimento Ordem do Cardo com Davi I através da Ordem de St. Thomas de Acon que teria sido fundada por ele como uma cópia dos Cavaleiros Templários.

Mas e o que isso tem a ver com a Maçonaria Operativa? David I da Escócia utilizava destas Ordens para financiar sua revolução Davidiana => Alguns apontam que é aí que surgem as lendas de origens Templária, ou a relação entre Maçonaria e Ordens de Cavalaria (voltaremos a isso mais tarde)

Dessa revolução arquitetônica, cavaleiresca e cultural do Século XII é que vai nascer o embrião da Maçonaria Escocesa.

Vamos agora dar um salto no tempo até o Reinado de Elizabeth I, da Casa de Tudor, simbolizada por duas Rosas - Uma Branca e uma Vermelha - Unidas, representando o fim da Guerra das Duas Rosas que colocou duas casas dinásticas Inglesas em choque - Lancaster e York. Ao morrer, sem descendentes, sua sucessão vai para o Rei da Escócia, Jaime, seu sobrinho por parte de Maria da Escócia. Apesar de ser oficialmente da casa Stuart da Escócia, era descendente dos Tudor por parte de mãe.

Junto do Rei Escocês, vai toda uma nobreza e a corte escocesa, além das práticas escocesas, para o território da Inglaterra.

Vamos agora para outro Salto Histórico - Rei Carlos I, no século XVII é condenado e executado por uma revolução puritana na Inglaterra, dando início ao que chamamos de República de Cromwell, forçando seu fico Carlos II a se exilar na França. - Estes Reis e Nobres que o acompanham em seu exílio são conhecidos como Escoceses, apesar de terem a grande maioria nascido já em terras inglesas. Entendam, caros leitores, eles chamavam assim pois era uma dinastia que vinha da Escócia.

Para ter o apoio dos Franceses, Carlos II que era Anglicano promete se converter ao catolicismo em data futura - data esta que nunca chega. Carlos II  se exila na França e na Holanda por algum tempo, até ser convidado a retornar para Inglaterra como Rei, após a morte de Cromwell e um governo desastroso de seu filho

. Alguns autores sugerem que já nesta época, durante o exílio, a Maçonaria Operativa é inundada por membros Especulativos, que por seu caráter secreto, usam da Ordem como rede de espionagem para a causa dos Stuart e outros a utilizam para assuntos que não seriam tão bem vindos nos meios convencionais e públicos - Magia, Alquimia, Cabala, Rosacrucianismo, Cristianismo Esotérico e todo tipo de Esoterismo.

Seu reinado é conflituoso, pois apesar de ser a favor da liberdade religiosa, ao mesmo tempo assina atos que beneficiam o poder dos Anglicanos e fornece Indulgência aos Católicos, suspendendo todas as leis que penalizavam católicos e dissidentes religiosas.

Durante esse período ocorre o Grande Incêndio de Londres, em 1666, causando grande destruição em uma cidade que era quase toda ainda com construções em madeira. Em seu reinado a cidade começará a ser reconstruída em Pedra, trazendo ainda mais Maçons Operativos e atraindo ainda mais atenção de homens que não eram ligados ao trabalho com pedra, mas que gostavam do caráter secreto da Ordem.

Carlos II morre sem deixar herdeiros, subindo ao trono seu irmão Jaime, que se torna Jaime II. Como católico buscou ainda mais a Liberdade Religiosa, permitindo que Católicos e até mesmo Judeus ocupassem cargos públicos e ampliando o direito ao próprio culto religioso. O que diminui o poder dos Anglicanos.

Jaime II foi um rei bastante adorado por Judeus, sendo chamado de 2º Salomão, pois permitiu que viessem da Europa, os recebendo com liberdade de culto e respeitando suas crenças, e os empregando em construções de pedra através da maçonaria, nessa época ainda operativa, mas já em transição a para o que chamaríamos hoje de maçonaria especulativa. Ele não apenas manteve as reformas em pedra de Londres, como as expandiu pelas ilhas britânicas.

Entretanto o conflito e as tensões religiosas com Anglicanos levaram o parlamento a convidar Guilherme de Orange, da Holanda, seu cunhado para Reinar na Inglaterra.

 A invasão de Guilherme, que era marido da Irmã de Jaime II, e protestante, inicia a dinastia de Hanover, que reina até hoje na Inglaterra e força os Stuart ao Exílio mais uma vez.

 Junto dos Stuart, uma parte de sua corte, vai com o Rei para a Europa continental - principalmente Suécia, França e no que hoje conhecemos como Alemanha.

 E isso gerará uma divisão entre os Hanoverianos, que apoiam a Dinastia de Hanover e os Jacobitas, que apoiam os Stuart => Sendo Jacobita um nome relacionado ao termo Jacobo, a forma latina do nome Thiago em português ou Jaime em Inglês.

 Grande parte dos Hanoverianos era composta por Anglicanos e outros Protestantes, enquanto a maior parte dos Jacobitas era composta por Católicos e até mesmo Judeus.

 Estes Jacobitas em territótio continental utilizaram a maçonaria como rede de espionagem e apoio a causa do Stuart, criando graus maçônicos que faziam referência ao exílio, a uma terra prometida, vingança e a Reis Prisioneiros ou Exilados, retornando ao seu lugar de direito.

 Portanto, estes Ingleses Jacobitas, que faziam parte de uma corte de origem Escocesa, ficarão conhecidos pela Europa como Escoceses. Ser Escocês neste período não significava ter nascido na Escócia necessariamente, mas principalmente uma ligação com a Nobreza e a Cavalaria ligadas à Dinastia Stuart.

 E por hoje é só pessoal, próximo Post continuaremos conversando e iremos entender como esses "Escoceses" e Jacobitas irão dar origem ao que conhecemos como Escocismo.

segunda-feira, 29 de maio de 2023

O Rito Escocês Retificado -RER

 Saudações Leitores,

 Este que vos fala é Gabriel Tristão e venho trazendo informações.

 Pretendo em uma série de Postagens descrever sobre o Trabalho do Rito Escocês Retificado, colocando de forma leve sua história, suas particularidades e seus Personagens. - para facilitar, no texto vamos nos referir a ele simplesmente como RER

 Mas o que é o Rito Escocês Retificado? Por quê estão Retificando o Escocês?

 Calma, calma meus amigos.

 Em primeiro lugar há que se desmistificar algumas questões.

 A origem do Rito Escocês Antigo e Aceito, ou simplesmente como chamam no Brasil - Escocês ou REAA - está em Charleston nos Estados Unidos, onde foram adicionados mais graus aos tantos já existentes no Rito de Perfeição. Em primeiro momento surge apenas o trabalho nos Altos Graus do Rito, ou seja, do 4 ao 33 - Isto ocorre em 1801

O Trabalho em Graus Simbólicos, ou seja, os primeiros três - Aprendiz, Companheiro e Mestre - vai surgir apenas enquanto embrião em 1804 -com o Guia de Maçons Escoceses que era uma Adaptação do Regulatéur dos Modernos Franceses.

Então temos a data de nascimento do Rito Escocês Antigo e Aceito em 1801, com seus graus simbólicos surgindo ali no mínimo em 1804.

E é importante falar e não confundir Rito de Perfeição - Heredom - com REAA. Quem diz que são a mesma coisa está em erro histórico e normalmente dá uma volta argumentativa que deixaria qualquer filósofo Sofista com inveja. 

Dizer que Rito de Perfeição e REAA são a mesma coisa, ou trata-los desta maneira, seria o mesmo que dizer que um bebê é a mesma coisa que seus pais. Da mesma forma que o filho compartilha semelhanças físicas e genéticas com seus pais e não se pode dizer que são a mesma coisa, o REAA compartilha a genética e algumas semelhanças com o Rito de Perfeição, mas não são o mesmo Rito.

Mas e o RER? Onde surge nessa história?

O Movimento de Retificação surge em Dresden, na Alemanha, em 1754. Quando uma figura polêmica, que iremos comentar mais a frente em outras postagens, chamada Barão Von Hundt decide "retificar" a Maçonaria, colocando-a em seu devido lugar, criando a Maçonaria Retificada de Dresden, ou como ficaria conhecida posteriormente: Estrita Observância Templária - EOT. Um regime de maçonaria Cavaleiresco, de forte Influência Escocista (aguardem os próximos posts para compreender melhor de onde vem o termo  "Escocês" dos Ritos). - Notem, aqui ainda não temos o RER.

Esta forma de Maçonaria cresceu bastante entre França e Alemanha, principalmente, por 20 anos.

Entretanto, esse Rito que proclamava herança real e física dos Cavaleiros Templários sofreu fortes perseguições políticas e religiosas, pois dentre seus objetivos estava o de restaurar a Ordem do Templo e reaver suas terras e posses, entrando em conflito com os Estados Nacionais e a própria Igreja, que desde o século XIV tinha a posse dessas terras e bens.

Com a decadência da EOT praticamente 20 anos depois, após o afastamento e morte de Von Hundt, vão acontecer "conventos" (reuniões) das Províncias das Ordens, organizadas nesta época no que eram chamados Diretórios Escoceses (Já consegue prever de onde vêm o "Escocês" do RER?) - para rever e retificar esta forma de Maçonaria - a EOT. 

No ano de 1776 um grupo de Irmãos se reúne na casa de Jean Baptiste Willermoz, figura da qual também falaremos em Postagens futuras, e decidem iniciar um movimento de retificação dentro da EOT, chamando um convento na França, chamado Convento das Gálias, em 1778, onde são aprovados o Código Maçônico para as Lojas Reunidas e Retificas, além do Código dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa. Re-estruturando a EOT Francesa em um novo Regime que era composto por uma Ordem Extena, chamada Maçonaria ou Loja Azul - com os Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. Uma Ordem Intermediária, chamada de Maçonaria ou Loja Verde - com o Grau de Mestre Escocês de Santo André - e uma Ordem Interna, que não era Maçonaria, mas sim uma Ordem de Cavalaria Chamada Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa.

Logo em Seguida convocam todas as províncias maçônicas a participar de um novo convento em Wilhemsbad, em 1782, onde o regime é aprovado e são fornecidos os primeiros rascunhos dos Graus da Ordem para suprir a Impaciência dos Irmãos das Lojas e províncias que participaram do convento em praticarem este novo rito e é neste local e neste ano que são confirmadas as definições de 1778, sendo este ano - 1778 - o qual nasce o RER. Um rito que abdica a Herança Física e Real dos Templários, mas assume uma herança espiritual - de valores e virtudes, da Ordem do Templo - reformando toda a estrutura e graus da EOT.

Em Wilhemsbad se reuniram diversos movimentos maçônicos para disputar a definição sobre o que seria a maçonaria a partir dali, sendo a visão de Jean Baptiste Willermoz a escolhida, apoiado e acompanhado por Joseph de Maistre, Rudolph Salzmann e Jean de Turkheim . E qual era essa visão? Fica para uma próxima postagem...

Temos portanto o Rito Escocês Retificado, um rito que nasce da retificação da Maçonaria Escocista, em especial a Estrita Observância Templária, em 1778 e é confirmado em 1782 - Portanto ele não surge para retificar o REAA, mas a própria maçonaria em voga na época e naquela região. Nascendo quase 25 anos antes do REAA pensar em nascer.

Por hoje é isso, meus caros Leitores - Aguardem próximas postagens neste Blog!



sexta-feira, 2 de abril de 2021

Prelate’s Apartment Abril 2021

por The late Reverend Sir Knight Donald C. Kerr* 


Uma velha história da Bíblia fala sobre o Rei Ezequias. Ele havia sido avisado por Isaías para desconfiar de quaisquer envolvimentos com estrangeiros. No entanto, o minúsculo reino de Israel estava sendo severamente ameaçado pelo poderoso império da Assíria. Um mensageiro de lá veio à corte de Ezequias em um gesto de paz. O rei Ezequias ficou lisonjeado e mostrou ao visitante assírio tudo o que havia no palácio, incluindo o acesso ao arsenal militar de Israel. Logo depois dessa visita, o feroz monarca da Assíria, Senaqueribe, veio marchando para as fronteiras de Israel. Então, o emissário para Ezequias acabou não sendo um amigo, mas um espião.


Se ao menos Ezequias não tivesse sido enganado. Se ao menos ele tivesse ouvido o que Isaías estava lhe dizendo. “Se ao menos” - quantas vezes já o dissemos? Se ao menos tivéssemos ouvido! Se tivéssemos decidido de forma diferente! Quantas decisões teriam tornado a vida mais fácil, "se ao menos?" 


Não podemos voltar. Não podemos desfazer o que foi feito. Freqüentemente, não há uma segunda chance. Podemos dizer "sim" ou "não". Quando a Grã-Bretanha enfrentava seus problemas durante a rebelião do Século XVII, o então jovem Príncipe Charles se apaixonou. Ele se casou secretamente e uma criança nasceu. Sua mãe, a rainha viúva exilada, ficou furiosa. Ela implorou para que seu filho desistisse da criança e de sua esposa. O príncipe Charles respondeu: “Se ao menos fosse possível voltar e começar a vida de novo”, mas ele não podia e não o fez. Para cada erro de julgamento, aprendemos uma lição. É claro que ninguém ou nada está absolutamente certo. Se aceitarmos o que é oferecido, fazemos isso acreditando que um "sim" é melhor do que um "não". A Bíblia chama isso de vontade de Deus. A vontade de Deus não condena. Isso nos dá liberdade. Todos nós respondemos a uma voz dentro de nós, que nos leva à obediência ao invés da confusão. Então, ainda dizemos, "se apenas?" ou fomos além disso para residir na companhia daqueles que não nos virariam as costas. A alternativa para “se ao menos” é acreditar que “seja feita a tua vontade”. 


*O finado Reverendo Sir Cavaleiro Donald C. Kerr era membro do Beauseant Commandery 8, Baltimore, Maryland, e pastor emérito da Igreja Presbiteriana de Roland Park em Baltimore.


sábado, 6 de março de 2021

Prelate’s Apartment Março 2021

Voltem para o SENHOR, nosso Deus, pois ele é bondoso e misericordioso; é paciente e muito amoroso (Joel 2:13)


Estamos agora na época da Quaresma. A Quarta-Feira de Cinzas ficou para trás, e a Páscoa ainda está a semanas de distância. Muitos falam da Quaresma como um momento de fazer coisas como perder peso, parar de fumar, desconectar-se das redes sociais, mas a Quaresma é um tempo para mais do que isso. É um momento de reflexão e preparação. É um momento para avaliarmos a nós mesmos e nossos relacionamentos, especialmente nosso relacionamento com Deus. 


O texto de Joel é usado em muitas igrejas luteranas como substituto do verso Aleluia durante a Quaresma, mantendo a tradição de não usar a palavra “Aleluia” desde a Quarta-feira de Cinzas até a Vigília da Páscoa. É uma das primeiras partes da liturgia que realmente me marcou quando criança. Acho que foi uma combinação do texto e da melodia, com sua tonalidade menor me parecendo "diferente". É realmente um texto maravilhoso para a Quaresma. Primeiro, nos chama a retornar e nos reconectar com Deus, mesmo que tenhamos sido separados Dele por qualquer motivo. Deus é bom! Ele é misericordioso e, ao contrário de muitos seres humanos por aí hoje em dia, demora para ficar com raiva. Claro, Deus às vezes estava zangado com Seu povo escolhido, mas também demonstrou graça e misericórdia. Exílios aconteceram, mas retornos também. As punições foram feitas, mas também os métodos de reconciliação. Deus quer estar em um relacionamento conosco, então Ele torna possível que façamos parte desse relacionamento sendo acessível. 


No texto hebraico, há uma palavra maravilhosa, chesed. Aparece com frequência nas Escrituras Hebraicas e significa “amor constante”. É aquele tipo de amor que tudo suporta, um amor constante e sempre presente. É, em resumo, o tipo de amor que todos queremos ter, mas achamos difícil compartilhar. Para Deus, porém, está sempre presente e presente em abundância. Está lá para cada um de nós, sem risco de escassez. 


Portanto, à medida que continuamos nossa jornada da Quaresma, reserve um tempo para buscar o chesed de Deus. Ao mesmo tempo, trabalhe para compartilhá-lo com as pessoas ao seu redor e incentive outros a voltarem para o Senhor. Ele está pronto e esperando.

Reverendo Arthur F. Hebbeler, III, Mui Eminente Grande Prelado do Grande Acampamento, Março de 2021